Abril não é um mês cruel,
nem o mais cruel (ele diria)
entre os meses todos. Nem
o ano é bissexto. Um bis-
neto, um neto, um filho,
um pai, um avô, que di-
ferença faz um mês ou
outro, outra a forma da
casa, casamento feito, este
o feitio da coisa, e causa
todo o transtorno a causa
de ser a casa o lugar.
Mas, se fora outro o lugar,
haveria forma de menos
ou mais diferença, fosse
março ou dezembro, outu-
bro ou fevereiro, carna-
val ou santa a semana santa?
Por que, então, indagar do
mês vazante, vazando pela
casa a forma de cada um,
suas paredes, obstáculos:
romper as cercas vivas, flores,
contornar por aquele caminho?
Se era abril, e um mês cruel?
Bem, que fosse abril, este
o mês disseminado entre chávenas
de chá, copos de vinho, xícaras
de café. Pois bebe-se nesta casa
— sorve-se nela um cotidiano
adoçável. Mesmo num mês de abril
cego e desolado, cruel, sangrando. |