Poemas:

• Tríade
• Tempo
• Calçadas de Lisboa
• Ao mestre
• Equacionar

TRÍADE

Na tríade
das divindades
o Deus-menino
era o meu preferido

Porquê?

por ser Deus?
ou ser menino?

Simplesmente
por tão pequenino
não saber
do seu ofício.

TEMPO
 

O tempo dilui-se na premência do presente
O tempo é constante na odisseia do meu ser
O tempo impede-me de ser ausente
O tempo distancia-me do meu sofrer.

Tempo tempestade intemporal
Raíz de uma sabedoria crescente
Criadora de uma paz universal
Na busca existencial transcendente

Tempo dividido e sagrado
Outrora lento e distanciado
Hoje premente e factual
Determinador do meu eu astral

Tempo intempestivamente temporário
No templo temporal do meu sacrário!

CALÇADAS DE LISBOA

De pedra cortadas alinhadas
são as calçadas atapetadas
de tons brancos, pretos e cinzentos
adornados de múltiplos ornamentos
geométricos, pássaros, caravelas
são imagens rudemente belas
que acocorados artesãos calceteiros
constroem em puros talhes certeiros
"ex-libris" desta cidade
são painéis de pluralidade
quadros de imagens pisadas
mas previamente acariciadas
por olhares fugazes e passantes
dos lisboetas, seus amantes,
vitrais em rendas esculpidos
tapetes de pedra tecidos
- são de Lisboa as suas calçadas
encruzilhadas de muitas passadas.

AO MESTRE
(apenas e sempre Fernando Pessoa)

eu...
qual eu?
como eu se não existo?
sou um átomo apenas
uma conjugação de factores
agregadores
eu?
onde?
na outra ou em mim?
eu plenipotênciária 
de mim mesma
criadora e não autora
contudo, sonhadora
visionária
não do V Império
mas do mistério
que há em mim e na outra.

EQUACIONAR 

Olhei o vazio
e enchi-o de projectos
Olhei as ambições
e purifiquei-as
Olhei a vida
e sorri-lhe
Olhei os outros
e aprendi
Olhei-me a mim
e recomecei.