Aurélio Buarque de Holanda

Soneto

Amar-te- não por gozo da vaidade, Não movido de orgulho ou de ambição. Não à procura da felicidade, Não por divertimento à solidão. Amar-te - não por tua mocidade -Risos, cores e luzes de verão- E menos por fugir à ociosidade, Como exercício para o coração. Amar-te por amar-te: sem agora, Sem ontem, sem futuro, sem mesquinha Esperança de amor sem causa ou rumo Trazer-te incorporada vida fora, Carne de minha carne, filha minha, Viver do fogo em que ardo e me consumo.


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