Higino Rolim Neto

Propagação do pê ou Pê, pê, Pê em Penca!
                  
 
            Palestra por palavras principiadas por pê, preparada pelo papai,  para o público presente. Prezados presentes, passados e porvindouros, peço     permissão à predileta platéia  para proferir a Propagação do pê ou Pê, pê, Pê em Penca!    
            Passageiro pedestre,  pedante,  pernóstico,  petulante,  pederasta,   passando pela porta, parou para perguntar: 
            — Por que puseste, na parede, placa plena de pês?
            — Perguntas "por quê?" Primeiramente porque, por profissão, pinto paredes, portões ,  panoramas,  paisagens,  prédios públicos,  palácios, praças... em pedra, pano e papel.
            — Pode parar! 
            — Poderia... porém prossigo. Prefiro pintar para pagadores preguiçosos, por precisar perseguí-los para pagar.
            — Puxa!
            — Provenho de pais portugueses. Pobres, porém probos. Primo do poeta Pantaleão Peixoto de Paiva Pinto. Parente próximo, por parte de pai, do primoroso,  profundo,  provecto pintor  pelotense, Pedro Pedrosa de Paiva Pereira Pinto, presentemente professor de pintura no palácios do príncipes portugueses...
            — Porra!
            — ...perito pintor por progênie, pinta por paixão!
            — Passando por ponto popular, preferido pelo público, proferindo a propagação do pê, passarás prontamente para a popularidade e perpetuar-te-ás na posteridade.
            — Pensa precise pavonear-me para, com pujança e pompa, progredir no parecer do provecto povo da província, pátria dos palmares?
            — Papulagem, papagaio palrador!
            — Peço não puxar pilhérias picantes!
            — Propositadamente não as profiro, nem por pirraça, propus-me, porém, pôr pedantes e palhaços em pagode!
            — Pare, papudo. Pedaço de potro. Possuído da praga, peste de pulgas, pixilingas, percevejos e piolho de porco!
            — Puxa, panelada de pês! Papagaios! Pintor, pra que perturbar-se? Não perca a presença. A paixão procura penas, prepara pancadas. Prossigamos em paz. Por que preparaste palestra em pê?
            — Primeiramente pelo que já proclamei e porque, perambulando pelo planeta, o pê me perseguiu. Partindo da Paraíba, passei, primeiramente, por Pernambuco. Pedi, posteriormente, passagem para o Pará. Prossegui para Portugal. Portugal? Por-tu-gal u'a p'tomba. P'tugal. Pinotei os p'rineus e p'rdi-me pelas praças de P'ris. Parti, prosseguindo na perambulação, para a pátria dos papas. Paulo, Pio... personalitás profondamente paternas, pias. Passeei,  pachorrentamente,  pelas proximidades do Pó.  À partida, já provido da passagem à Paraíba, uma padovana, parenta de Piccinini, perguntou, pesarosa:
            — Pa...pa...paraibano, perchè non permanere um pó de piú?  Perchè partire?
            — Perchè paquete é presto a partire... ed io partiró, padovana.

            Parêntesis.

            Peccato de padovana! Peccato!  Peixão!  Perfil de Pampanini...Patrícia Pilar...Peccato! Pés pequeninos. Pernas perfeitas, perfiladas. Partes posteriores polpudas, provocantes. Pachola!  Potranca!!!... Peitos - poitrines - pontudos, pontiagudos e perigosamente perfumados, pisca-piscando promessas pecaminosas.
            A pacata padovana, a pérola preciosa de Pádua, permanecia paradona, provocante, pedindo piedosamente pela permanência do parceiro paraibano.
            "Perchè partire? Perchè?"
            A Piccinini prometia-me uma policromia de prazeres paradisíacos. Perdi-me de paixão. Permaneci.
            Preso aos predicados perturbadores do "paraíso padovânico", perdi a presença. Perdi-me. Perdemo-nos.
            Perdoem-nos.  Pecamos. Prevaricamos sem pejo, sem pundonor. Possuímo-nos, perdidamente, por puro prazer e paixão!
            Prenhou presto.
            Pariu.
            Presentemente, pressuponho, um petiz, pimpolho, primogênito da padovana-piccinini, passeia, pachorrentamente, pelas proximidades do Pó, pensando no pintoso do papai paraibano.

            Parêntesis.
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            Prossegui a peregrinação, providenciando passagem para o porto de partida,  perdendo-me por picuinhas, ao passar pela praia de Pirambu. Uma plêiade de pixotes proferiu:
            "Por pê principiam as principais palavras portuguesas: papai, piedade, perdão".
            Pressuroso prossigo: "Por pê pronunciam-se as piores pragas: pecado, peste, patíbulo, pequerruchos paridos de ————!"
            Pegam-me pelo paletó. Puxam-me para a prisão.
            Na penitenciária, perante presos e policiais, presto, sem pestanejar, na posição de prestidigitador, profiro a propagação do pê.  Os polícias parabenizam e patenteiam a porta da partida pro papai.
            O pê, pê, pê em penca privou-me de penas e pancadarias na prisão. Só posso possuir particular predileção pelo pê.
 
 

            Patrícios!

            Poderia, por um poucochinho, proferir punhados de proposições  com palavras  principiadas por pê... porém, para não parecer prolixo, prefiro por  ponto... proferindo a porventura pretensiosa petição de
            Plauto:
             "Podeis prodigalizar, em pé, palmas em profusão, para o patético e poético  Pê, Pê, Pê em Penca!!!

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 Página editada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  15  de  Maio  de  1998