Numa canoa de sol
A manhã me faz
ao largo.
À noite tiro meu
peixe.
Um pargo.
Moreia Sete Dentadas
Cortantes como rocega
Vento Nordeste, na volta
Me pega.
Ostra da arrebentação,
Me lanha a tábua
do queixo,
Crava dente, tira bife
Na gengiva do ar -
recife.
Vento filho de uma grota,
Como uiva.
Aracati de uma figa,
Como briga.
No Pontal do Sirigado
Com seu chicote queimado
Me surra.
Na Croa da Água
Bela
Com seu anzol de barbela
Me fisga.
“Desgraçado, toma
umas
& outras, morre a
teu gosto”
Sopra o terral no seu
buso
Em agosto.
“Dente ciso cariado,
Cera do Dr. Lustosa,
Japona, chapéu
de palha,
Talagada de aguardente
Com siri de tira-gosto,
Tudo isso é bom
encosto”
Sudeste, vento aloprado.
Desarruma qualquer rota.
Dá nó na
barba do mar,
Entorta vôo de
gaivota.
Vento ruim, bandoleiro,
Sobrosso de terra e costa.
Na Praia do Cotovelo,
Já sem força
no revólver
Dispara bala de vento.
O tiro bate no ar,
Ricocheteia na Lua,
No relento se dissolve.
Na Ponta da Pedra Lisa
Já de porre,
Vira brisa, assovia
Lento, morre.
Numa rede de cem braças,
Velha
E suja,
Fedendo a mijo de arraia,
Debaixo do cajueiro
como qualquer um de nós
Se enterra o Vento
Na praia.
Barra do
Cunhaú, RN,
janeiro
de 1976.
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