Otaviano Hudson


O Operário
(Fragmentos)

Sobre uma velha enxerga repousa o operário Doente, sem recursos, exposto ao abandono, Do leito à cabeceira os filhos recostando-se, Extorcem-se de fome. "Papai um pão — papai — exclamam esses lábios Que a taça do infortúnio estréiam no libar, "Papai, mamãe é má, o pão mamãe esconde-o, Pede-lhe o pão — oh! pai!" E a mulher infeliz, vertendo amaras lágrimas Como louca vagueia opressa pela dor; E aos céus conforto roga, ao desespero alívio Implorando-o debalde! Quantas vezes, oh! Deus abriu ela o armário Contemplando-o vazio! e quantas a lareira Sem nada mais achar, exclama genuflexa: — Protege-nos oh Deus! Enquanto atordoado o triste proletário Revolve-se a gemer e sem poder dormir, Os míseros filhinhos famintos e esquálidos Lastimam-se chorando. A noite desenrola a negra enorme túnica Sobre áureos palácios e tristes pardieiros, Em uns quê de folguedos, em outros quê de angústias Travam-se à sua sombra! Ai, quanto dissabor esmaga o operário Quer no leito dolente ou ainda na oficina, Quanto escárnio, meu Deus, às faces arremessa Estúpida vaidade! Tragando humilhações, exposto às intempéries, À fome, frio, chuvas e outras mil agruras, Eis do mais inditoso, infeliz operário Horribile existência! Novos Sísifos a rolar inglórios O seixo enorme de um trabalho insano, Quando tombam no leito — uma trindade abraça — Miséria, escárnio e dores! As mãos cheias de calos, as mãos que nobilita Na lima, no martelo, na serra e na bigorna, Colhem palhetas de ouro e como as conchas níveas Pródigas emergem pérolas! Letras, artes, comércio, indústrias e ciências Não prescindem do braço invicto do trabalho, E quando a pátria ultrajam, lá corre o operário Defende-a te morrer! Honrando do progresso o prefulgente lábaro, Na vanguarda marchai dos grandes combatentes Até que um dia reconquisteis impávidos, Libérrimos direitos. O sol que doura os montes espraia os raios ígneos, Beijando as vossas frontes ungidas de suor; Quando amortece a flama, no horizonte atufa-se, Saúda-te operários


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