Isaura Davoli de Oliveira 

Venha, Te Chamo
 
Você se foi,
embalada pelo vento.
Não sei se me deixou
ou se te perdi no tempo.
Estive um pouco atarefada,
entre fraldas e mamadeiras
-- nunca noites inteiras.
Pediatra, batizados,
reuniões, lancheiras,
caminho da escola,
aniversários, primeira comunhão,
entra e sai de amiguinhos,
a grande espera no portão,
vestibular, faculdade,
prato feito, saída apressada
-- becas, enfim!
Véu e grinalda,
malas saindo,
levando um tempo de mim.
Agora,
as janelas me contam
o que o mundo me diz.
As flores trazem seu perfume,
estás perto, sinto feliz,
te chamo.
Venha ver
as paredes que me abraçam,
o meu entardecer, 
ler meus poemas,
cantar minha canção.
Antes que o tempo mude,
vou desatar as amarras,
esparramar no chão
toda nossa juventude.
Para que nada se perca,
o chá pode esperar.
O encanto da reminiscência
muitos sóis pode durar.
Vou te mostrar
os caminhos que andei,
as flores que plantei,
os rastros que deixei.
Venha.
Enquanto os dias são meus,
quero conhecer todos os teus.
Aninhar minhas saudades,
absorver o tempo como um bom vinho.
Não demore.
Venha antes
que eu comece a tricotar sapatinhos.
 
Remetente: Paulo Menna Barreto

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  09 de dezembro de 1997