Venha ver
como ficou tudo
depois que ele se foi.
Só as portas me abraçam agora.
Os cômodos, adormecidos,
não despertam com meu clamor.
A cama, fiel amiga,
agora estendida,
abriga seus sonhos, sua doutrina.
Seus chinelos calados guardam
seus passos nas tardes de domingo.
Seu boné, debruçado no criado-mudo,
chora seu anoitecer.
A cadeira que embalou suas idéias
num canto da sala
agora recita sua história.
A Bíblia, emudecida,
acalenta em cada página,
muitas vezes percorrida,
sua impressão digital.
A água do poço,
embora cristalina,
não vibra tanto ao chegar.
Seu canto de amor
ficou na dança das folhas,
no sopro do vento.
Sua carícia ficou nas flores,
na fragrância que envolve a gente.
Sua fibra
ficou nas árvores que se agigantam,
sombreando o grande quintal e
dando-nos alento.
O azul de seu olhar
espalhou-se no espaço
para nos iluminar.
Sua palavra
impregnou-se nas janelas,
nas paredes, nas cortinas,
nos móveis e no retrato dela.
Os musgos apagaram sua trilha,
mas ficou sua imagem
e de seus rastros.
Ficou nossa fé e coragem. |