Quero voltar para casa.
Tocar o sino assim que chegar,
Sentar no colo de minha mãe,
beber água da biquinha.
Cavalgar pelos campos a cantar.
Espiar a obra do joão-de-barro,
Ouvir o canto da cotovia,
brincar no jardim de bem-me-quer,
deixando rastros de minha estripulia.
Subir na grande árvore,
Mostrar a criança que ali deixei.
Quero voltar para casa.
Olhar para dentro de todas as janelas,
ver a cama macia,
onde guardei meus domingos.
Me esquecer pelo pomar
colhendo os frutos que perdi,
Pisar no regato
que apagou as marcas de ontem,
Ver o moinho de muitos ventos.
Meus pais atarefados,
se perdendo pelos quintais.
Quero abrir todas as portas,
abraçar cada saudade.
Deitar na rede sonora
onde dormi muitas vidas
e embalei muitas vontades.
Quero voltar, mas não posso agora.
Da rua barulhenta ouço meu neto chamar:
Vovó cheguei! Quero ficar. |