Isaura Davoli de Oliveira 

Estão Levando Nossa Casa
 
Pai,
Estão levando nossa casa embora.
As telhas
Cabisbaixas vão saindo enfileiradas.
Não há ninguém para cobrir agora.
Cada tijolo é arrancado de meu coração.
As janelas
Fecham suas pálpebras.
Não há para quem
Mostrar o mundo lá fora.
As portas,
Anfitriãs de muitas auroras,
Abraçaram tantos abraços,
Perdem seu chão, seu espaço.
Sua chave
Trancou em nós a saudade.
As flores assustadas
São arrancadas sem compaixão,
Deixando ali todo seu perfume.
A dama-da-noite, sonolenta,
Aperta um punhado de flores na mão.
No chão,
Um amontoado de cacos
Apagam as divisas
De encontros e despedidas.
Pai,
Estão levando nossa casa.
Nosso canto de vida.
Desfazendo a ciranda,
Mãos chorando na saída.
Da calçada, nada se vê agora.
Apenas a castanheira
Alonga seu olhar
Por cima do muro,
E me vê, indo embora.
 
Remetente: Paulo Menna Barreto

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  09 de dezembro de 1997