Fernando Pessoa
Poesias Inéditas
 
A 'sperança, como um fósforo inda aceso
 
 
A 'sperança, como um fósforo inda aceso, 
Deixei no chão, e entardeceu no chão ileso. 
A falha social do meu destino 
Reconheci, como um mendigo preso. 

Cada dia me traz com que 'sperar 
O que dia nenhum poderá dar. 
Cada dia me cansa de Esperança ... 
Mas viver é sperar e se cansar.

O prometido nunca será dado 
Porque no prometer cumpriu-se o fado. 
O que se espera, se a esperança e gosto, 
Gastou-se no esperá-lo, e está acabado. 

Quanta ache vingança contra o fado 
Nem deu o verso que a dissesse, e o dado 
Rolou da mesa abaixo, oculta a conta.
Nem o buscou o jogador cansado.
 

 
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