Fernando Pessoa
Poesias Inéditas
 
Qual é a tarde por achar
 
 
Qual é a tarde por achar  
Em que teremos todos razão  
E respiraremos o bom ar  
Da alameda sendo verão,  

Ou, sendo inverno, baste 'star  
Ao pé do sossego ou do fogão?  
Qual é a tarde por voltar?  
Essa tarde houve, e agora não.  
  

Qual é a mão cariciosa  
Que há de ser enfermeira minha — 
Sem doenças minha vida ousa —  
Oh, essa mão é morta e osso ...  
Só a lembrança me acarinha  
O coração com que não posso. 

 
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