Fernando Pessoa
Poesias Inéditas
 
Na noite que me desconhece
 
 
Na noite que me desconhece 
O luar vago, transparece 
Da lua ainda por haver. 
Sonho. Não sei o que me esquece, 
Nem sei o que prefiro ser. 

Hora intermédia entre o que passa, 
Que névoa incógnita esvoaça 
Entre o que sinto e o que sou? 
A brisa alheiamento abraça. 
Durmo. Não sei quem é que estou.

Dói-me tudo por não ser nada. 
Da grande noite. embainhada 
Ninguém tira a conclusão. 
Coração, queres? 
Tudo enfada Antes só sintas, coração. 
 

 
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