Jaime Gralheiro

Fernão Mendes Pinto

Somos um povo de saltadores/poetas. O salto/assalto é a nossa vocação. De salto passámos as barreiras, as metas Que vão desde as Berlengas, para além de Ceilão. De salto vencemos Cabos, Ultrapassámos Esperanças. De salto perdemos Montes Pirinéus E o alto mar! De salto conquistámos Franças e Aranganças E enfrentámos Deus Com as mãos a abanar. De salto voámos Nas rotas do sonho. De salto rastejámos À procura do pão. De salto chegamos, De salto partimos os cornos E ardemos nos fornos Da Stª. Inquisição. Foi o salto, o assalto, Foi a estrada, o asfalto, O carreiro, o mar alto Que nos abriu a porta; Foi o filho, foi a fome, A mulher, o renome, A vaidade dum "home"; Foi a nossa avó torta Que não tinha na horta Caldo para nos dar. Foi o mar... Foi o mar... Ai a cruz das caravelas, Cruz da Stª. Inquisição, Ai a cruz do Tormentório Da pimenta e Mazagão. Ai a cruz que nos puseram Sexta-feira de paixão. Ai a cruz que arrastamos Mundo fora: este Calvário, Sem Cirinéu nem sudário, Que a ela nos deite a mão. Ai a cruz! ai maldição! Porque a terra nos negou Um canto de amor e pão, Eternamente metidos Nesta vã "peregrinação" Sempre atrás do vil metal, Eu, Fernão Mendes Pinto, Cheirando ao bagaço e ao tinto, Eu é que sou Portugal!


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