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Jair Gramacho

1930-2003

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Alguma notícia do(a) poeta, por Hèlio Pólvora e Florisvaldo Mattos

Jair Gramacho é natural de Santa Maria da Vitória, no sertão baiano, onde nasceu a 2 de janeiro de 1930, filho de Derval Gramacho e Zilda Demarchiori Gonçalves Gramacho. Participou do movimento intelectual de Salvador, como um dos integrantes da revista Caderno da Bahia (1948-1952), onde atuavam seus amigos Vasconcelos Maia, Wilson Rocha, Luís Henrique Dias Tavares, Darwin Brandão e Heron de Alencar (além de José Pedreira e Mário Cravo Júnior, criadores do bar Anjo Azul) , além de outros grupos, como o de artes plásticas, com Rubem Valentim, Carlos Bastos etc. — todos eles responsáveis pelo sopro renovador da cultura baiana no pós-guerra. Datam dessa ocasião trabalhos esparsos de Gramacho em periódicos de Salvador, sobretudo traduções de poetas ingleses, a que se seguiram odes de Safo e Horácio. Fez estudos secundários no Colégio Dois de Julho, chamado de Colégio Americano porque dirigido pelo casal Baker — Peter Garrett Baker e Irene H. Baker, missionários protestantes mais tarde reitores do Colégio Mackenzie, em São Paulo. Com eles, Jair teria apurado o seu inglês. Completou o curso secundário no Colégio da Bahia. Em 1959, lançou Sonetos de Edênia e de Bizâncio, na Coleção Tule, n.º 1, Imprensa Oficial da Bahia, sob a direção do contista e dramaturgo Nélson de Araújo. Publicou ainda Quatro Sonetos Ingleses de José Albano (Macunaíma, 1960).

Na década de1950 Jair Gramacho transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde conviveu com numerosos intelectuais de prestígio. Foi pesquisador na Biblioteca Nacional, ao lado de Eugênio Gomes, crítico renomado por seus estudos de Literatura Comparada, natural de Ipirá, Bahia. No Instituto Nacional do Livro, Jair participou da elaboração da Enciclopédia Brasileira — uma das metas do Governo Kubitschek, mas que permaneceu inconclusa — e, sob coordenação de Antônio Houaiss, traduziu a Enciclopédia Delta-Larousse, juntamente com Cândido Figueiredo e Afrânio Coutinho.  Ainda no Rio de Janeiro, venceu o Prêmio Olavo Bilac, da Secretaria de Educação e Cultura do então Estado da Guanabara, com o livro Flautas, Tímpanos e Oboés, que teria sido editado em Portugal. A comissão julgadora do concurso era composta por Lêdo Ivo, Cassiano Ricardo e \Valdemar Cavalcanti. “O livro inteiro versa a invasão holandesa na Bahia”, disse o Poeta em carta a Pedro Moacir Maia. Nessa mesma carta, de 1 de outubro de 1963, mencionava “alguns epitáfios” que estaria escrevendo como segunda parte do livro.

De volta a Salvador, a convite da Universidade Federal da Bahia, atuou no Centro de Estudos Afro-Orientais, sob a direção de Agostinho da Silva. Helenista e poeta, recebeu, talvez por influência de Nélson Rossi, convite para trabalhar no Centro de Estudos Clássicos da Universidade de Brasília, coordenado então pelo professor Eudoro de Sousa, e do qual foi um os fundadores e professor adjunto, depois de fazer seu mestrado com tese sobre Hino Homérico a Deméter. O golpe militar de 1964 travou-lhe a carreira pedagógica, a pretexto de atividades comunistas. O Poeta retornaria, contudo, à UnB, beneficiado pela anistia, quando então conheceu Maria Luísa Roque, catedrática em grego, com quem manteve relação conjugal. “Florões da biblioteca do casal eram as coleções completas de Loeb Library, e das edições Belles Lettres, famosos repositórios de clássicos gregos e latinos”, escreveu Pedro Moacir Maia. Aposentados, vieram à Bahia, em 1973, para uma temporada em Mutá, do outro lado da ilha de Itaparica, no continente, sempre em intensa convivência com autores da antiguidade clássica.

Ela voltou a Brasília, enquanto o Poeta prosseguia, em  lugares como Jaguaripe e Nazaré, até quando retorna à UnB, na década de 1980, agora casado com Luzia de Oliveira Gramacho, de cujo matrimônio lhe nasceriam cinco filhos. Nesse período, o poeta concluiu a tradução de seis dos 34  Hinos homéricos — a primeira em língua portuguesa, que tanto têm influenciado altas obras de ficção e poesia, e seria publicada pela UnB em dezembro de 2003, mas que ele não chegaria a ver, desde que falecera poucos meses antes, em 7 de setembro. Jair Gramacho está sepultado em Jaguaripe, na contracosta da Ilha de Itaparica.

 

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Hélio Pólvora

 

Florisvaldo Mattos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

25.1.2014