Alguma notícia do(a) poeta, por Hèlio Pólvora e
Florisvaldo Mattos
Jair
Gramacho é natural de Santa Maria da Vitória, no
sertão baiano, onde nasceu a 2 de janeiro de 1930,
filho de Derval Gramacho e Zilda Demarchiori
Gonçalves Gramacho. Participou do movimento
intelectual de Salvador, como um dos integrantes da
revista Caderno
da Bahia (1948-1952), onde atuavam seus amigos
Vasconcelos Maia, Wilson Rocha, Luís Henrique Dias
Tavares, Darwin Brandão e Heron de Alencar (além de
José Pedreira e Mário Cravo Júnior, criadores do
bar Anjo
Azul) , além de outros grupos, como o de artes
plásticas, com Rubem Valentim, Carlos Bastos etc. —
todos eles responsáveis pelo sopro renovador da
cultura baiana no pós-guerra. Datam dessa ocasião
trabalhos esparsos de Gramacho em periódicos de
Salvador, sobretudo traduções de poetas ingleses, a
que se seguiram odes de Safo e Horácio. Fez estudos
secundários no Colégio Dois de Julho, chamado de
Colégio Americano porque dirigido pelo casal Baker —
Peter Garrett Baker e Irene H. Baker, missionários
protestantes mais tarde reitores do Colégio
Mackenzie, em São Paulo. Com eles, Jair teria
apurado o seu inglês. Completou o curso secundário
no Colégio da Bahia. Em 1959, lançou Sonetos
de Edênia e de Bizâncio, na Coleção Tule, n.º 1,
Imprensa Oficial da Bahia, sob a direção do contista
e dramaturgo Nélson de Araújo. Publicou ainda Quatro
Sonetos Ingleses de José Albano (Macunaíma,
1960).
Na década de1950 Jair Gramacho transferiu-se para o
Rio de Janeiro, onde conviveu com numerosos
intelectuais de prestígio. Foi pesquisador na
Biblioteca Nacional, ao lado de Eugênio Gomes,
crítico renomado por seus estudos de Literatura
Comparada, natural de Ipirá, Bahia. No Instituto
Nacional do Livro, Jair participou da elaboração da
Enciclopédia Brasileira — uma das metas do Governo
Kubitschek, mas que permaneceu inconclusa — e, sob
coordenação de Antônio Houaiss, traduziu a
Enciclopédia Delta-Larousse, juntamente com Cândido
Figueiredo e Afrânio Coutinho. Ainda no Rio de
Janeiro, venceu o Prêmio Olavo Bilac, da Secretaria
de Educação e Cultura do então Estado da Guanabara,
com o livro Flautas,
Tímpanos e Oboés, que teria sido editado em
Portugal. A comissão julgadora do concurso era
composta por Lêdo Ivo, Cassiano Ricardo e \Valdemar
Cavalcanti. “O livro inteiro versa a invasão
holandesa na Bahia”, disse o Poeta em carta a Pedro
Moacir Maia. Nessa mesma carta, de 1 de outubro de
1963, mencionava “alguns epitáfios” que estaria
escrevendo como segunda parte do livro.
De volta a Salvador, a convite da Universidade
Federal da Bahia, atuou no Centro de Estudos
Afro-Orientais, sob a direção de Agostinho da Silva.
Helenista e poeta, recebeu, talvez por influência de
Nélson Rossi, convite para trabalhar no Centro de
Estudos Clássicos da Universidade de Brasília,
coordenado então pelo professor Eudoro de Sousa, e
do qual foi um os fundadores e professor adjunto,
depois de fazer seu mestrado com tese sobre Hino
Homérico a Deméter. O golpe militar de 1964
travou-lhe a carreira pedagógica, a pretexto de
atividades comunistas. O Poeta retornaria, contudo,
à UnB, beneficiado pela anistia, quando então
conheceu Maria Luísa Roque, catedrática em grego,
com quem manteve relação conjugal. “Florões da
biblioteca do casal eram as coleções completas de
Loeb Library, e das edições Belles Lettres, famosos
repositórios de clássicos gregos e latinos”,
escreveu Pedro Moacir Maia. Aposentados, vieram à
Bahia, em 1973, para uma temporada em Mutá, do outro
lado da ilha de Itaparica, no continente, sempre em
intensa convivência com autores da antiguidade
clássica.
Ela voltou a Brasília, enquanto o Poeta
prosseguia, em lugares como Jaguaripe e Nazaré,
até quando retorna à UnB, na década de 1980,
agora casado com Luzia de Oliveira Gramacho, de
cujo matrimônio lhe nasceriam cinco filhos.
Nesse período, o poeta concluiu a tradução de
seis dos 34 Hinos
homéricos —
a primeira em língua portuguesa, que tanto têm
influenciado altas obras de ficção e poesia, e
seria publicada pela UnB em dezembro de 2003,
mas que ele não chegaria a ver, desde que
falecera poucos meses antes, em 7 de setembro.
Jair Gramacho está sepultado em Jaguaripe, na
contracosta da Ilha de Itaparica.