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Página atualizada em 10.07.2000
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Janaina Rocha

A embolada urbana dos irmãos Caju e Castanha
A dupla de pernambucanos lança o 14º disco, `Vindo lá da Lagoa', pela Trama 
 

(in O Estado de São Paulo, 
Caderno 2, 10.7.2000).


 
Quem assistiu à edição do Heineken Concerts deste ano garante que o confronto entre os repentistas franceses do Fabulous Trobadors com a dupla de emboladores pernambucanos Caju e Castanha foi um dos mais divertidos espetáculos musicais de 2000. O fato de o embate ter sido realizado em línguas diferentes levou a platéia a rir mais ainda e o improviso da dupla ganhou força com a torcida brasileira. O "duelo", ocorrido na Tom Brasil (um dos palcos do festival), é apenas uma mostra da capacidade criativa de Caju e Castanha, que há 28 anos mostram sua arte pelo Brasil. Nesta semana, a dupla lança o 14º disco de sua carreira, Vindo lá da Lagoa, pela gravadora Trama. 
"Quando a gente começava a desafiar os gringos, o povo ria demais", recorda Castanha. "Ninguém se entendia muito, mas o interessante da história é que eles sabiam quem éramos e se inspiravam no nosso modo de embolar", explica. 
"E a conseqüência desse encontro é que vamos para a França, em janeiro, e serão eles que vão dar risada de nós." 
"Casa certa" - O álbum Vindo lá da Lagoa estava pronto havia dois anos. Seria lançado por outra gravadora, que os deixou na mão, sem dar muitas explicações. Além disso, os dois últimos CDs, produzidos pela Sony e a menos conhecida Gema, foram mal divulgados. Se não fosse por isso, acredita Castanha, "eles teriam estourado", assim como o ídolo brega Reginaldo Rossi. Agora, na Trama, afirmam ter encontrado a "casa certa". 
Os pernambucanos enfrentaram ainda outro obstáculo: Caju ficou doente. 
Durante a apresentação no festival Abril Pro Rock, de 1999, sentiu fortes dores no peito. Fez exames e o diagnótico foi câncer. A doença, neste ano, voltou, atingindo parte da região cerebral. Felizmente, o tumor não afetou "o juízo nem o dom de improvisar", diz Caju. De fato, sempre que há uma deixa, os dois compõem, de pronto, alguma rima. Agora, quatro meses após submeter-se a uma cirurgia, Caju está bem e prepara-se para a agenda de shows. 
Mesmo com esses contratempos, a dupla tem sido reconhecida. O Heineken Concerts e o Abril Pro Rock são prova disso. Eles ainda participaram do disco O Dia em Que Faremos Contato, de Lenine. Na faixa de abertura A Ponte (ganhadora de um Prêmio Sharp), a programação computadorizada mistura-se ao coco de Caju e Castanha. Todas essas conquistas põem em evidência a originalidade dos emboladores, que se diferenciam de muitos outros por "urbanizar a embolada". 
Castanha explica: "O nosso estilo é a embolada, pois fazemos versos improvisados ao som do pandeiro e do ganzá, só que a gente inclui outros instrumentos, não se limita." Em Vindo lá da Lagoa há, por exemplo, a presença de violinos, cavaquinho, bateria, baixo, guitarra, flauta e muita percussão. Tudo na medida, sem prejudicar a essência de cantador de rua, que faz também baião, aboio e forró. Criam rimas com os sons das palavras sobre o cotidiano e situações maliciosas - motes tradicionais da cultura nordestina. 
Favela da Rocinha é um um grande esclarecimento de que a periferia não é só bandidagem, Purucutruco é um grito de alerta contra as diferenças sociais e Mulher do Corno Rico e do Corno Pobre é daquelas emboladas feitas para rir do começo até o fim. E tem mais. Os dois ainda criaram Forrómangue, uma homenagem a Chico Science. Tudo no melhor estilo da dupla, que se começou a definir quando os irmãos Caju, de 8 anos, e Castanha, de 6, tiveram de ir às feiras e praças do Recife fazer embolada para ajudar em casa.
O álbum da dupla de cantadores de viola Titico e Raimundo Caetano é o mais recente lançamento do selo Pequizeiro Produções Artísticas, do violeiro e compositor Téo Azevedo, distribuído pela gravadora Eldorado. O disco é o 15º da série Os Grandes Repentistas do Nordeste, que foi iniciada em 1998 - ano de criação do selo. A coleção é preciosa. 
Téo Azevedo, mineiro de Alto do Belo, veio para São Paulo com o pai, seu Tiófo, em 1969. Desde então, iniciou uma estreita relação com a cultura nordestina. No Brás, conheceu o cantador alagoano Guriatã de Coqueiro e com ele aprendeu as diversas modalidades da cantoria nordestina. 
A aproximação com o universo repentista, em São Paulo, deu a Téo passe livre com os migrantes nordestinos. Até o ano passado, o compositor apresentava, aos domingos, rodas de cantorias de repentes, emboladores, cordelistas e aboiadores, no Centro de Tradições Nordestinas. E muito do que observou e mostrou em espaços como este está na série Os Grandes Repentistas do Nordeste, em que as duplas apresentam sua arte em motes setessílabos, sextilhas, vaquejadas, canções, decassílabos e outras das 60 modalidades da cantoria nordestina. 
Popular - Esses quase anônimos, donos de legítimas vozes da rica cultura popular, compõem também o elenco da trilha sonora do documentário Saudades do Futuro, do casal César Paes e Marie Clémence. 
Outra pérola da coleção é o registro da embolada de Terezinha e Lindalva. 

          Nascidas no Rio Grande do Norte, elas moram na Baixada Fluminense e mostram nas praças de todo o Brasil o quanto a mulher sabe improvisar. O selo CPC-Umes, também distribuído pela Eldorado, tem outro título primoroso. Ano passado, lançou o disco Mulheres no Repente, de Minervina Ferreira e Mocinha da Passira. Um álbum que tem "vocação histórica", como define o diretor-artístico da gravadora, Marcus Vinícius de Andrade. "É o primeiro registro fonográfico de uma peleja entre as duas maiores mulheres repentistas do Brasil." (J.R.)
O cordel nordestino
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