José Carlos Capinam


Poeta e Realidade

III
(Outra Didática)
Dou ao meu verso usos de clareza de um rio coerente à sua limpeza. Não desvirtuei a cidade que percebi, denunciei o fruto como o recebera. Não me veio pressa ao fazer ou adquirir. O que fiz exigia madurar-se em corpo, o que adquiri foi bom, sendo por carência. Antes tive fome e sede, depois o gosto. Como se alternaram os caminhos, preferi aquele que ao mar se prestaria qual raiz de acontecimento. E alguma vez me encontrei perdido. Ante desvio e ponte arruinados surpreendido o verso é grave e pesa, o verso é grave. Mas como tudo, sei, guarda um sentido nenhuma tristeza tenho da realidade.
VI
(A viagem lúcida)
De minha certeza me organizo. Tenho a coerência ele todo ser que vive e se elimina, guardando a precária exatidão de seu sentido. Ando sem possibilidades de por mim mesmo retornar à sombra da árvore antiga. Não uso olho e língua para criar Deus em mim, em mim a dor humana eliminou a condição divina. Hoje parto sem desespero, sem melancolia, parto sem me deixar na sala dentro de qualquer lembrança. Carrego inteira a memória e a pouca preparação do real. Parto como quem vê, como quem morde fundo e distingue longe. Assim parto sem lágrimas para estar lúcido e compreender a viagem.


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