José Fernandes Fafe
Exegese
De que é feito esse amor?, perguntam-me e não sei...
Da matéria da noite mais impávida,
onde as estrelas inscrevem uma lei ...
Da estrada longa e da cegueira ávida
com que quiseste povoar de amor os ermos...
Longe, os cães das quintas ladravam-te com raiva
(Vejo o teu gesto, um franciscano aceno,
vejo a minha mão crispar-se, dolorida,
vejo unir-nos num abraço o desespero... )
Das trevas, do linho negro em que tecemos
a manta na noite dos pobres estendida...
(Senhora, acamaradando-se dói menos. . . )
Das mãos dadas, pelo sono dos casais, pela Vida,
pela emboscada — onde caíste de cansaço
e me rasgaram a rubra e funda ferida
donde manam — o baço tempo, o alaranjado lume
e a inexorável frialdade de aço
que um anjo tetular em si reúne.
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