José Gomes Ferreira


Agora, apodrecer

Agora, apodrecer. Nas ruas, no suor das mãos amigas dos amigos, na pele dos espelhos... desespero sorrido, carne de sonho público, montras enfeitadas de olhos... ...mas apodrecer. Bolor a fingir de lua, árvores esquecidas do princípio do mundo... "como estás, estás bem?", o telefone não toca! devorador de astros... ... mas apodrecer. Sim, apodrecer de pé e mecânico, a rolar pelo mundo nesta bola de vidro, já sem olhos para aguçar peitos e o sol a nascer todos os dias no emprego burocrático de dar razão aos relógios, cada vez mais necessários para as certidões da morte exata, Sim, apodrecer ... "...as mãos, a cólera, o frio, as pálpebras, o cabelo a morte, as bandeiras, as lágrimas, a república, o sexo... ... mas apodrecer! Sujar estrelas.


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