Clique aqui para conhecer o maior site de Poesias da Internet !!! Soares Feitosa
Av. Antônio Justa, 3.440 /501
CEP: 60165-090 - Fortaleza, CE
Fone 085.242.27.60 - Email
Novidades da semana

Você quer participar?

Veja como é fácil

 
 

J. G. de Araújo Jorge

Nesta página:
Importa...
Chovia... chovia...
Marinha nº. 1
Marinha nº. 2
Explicação
As duas faces
Era música...
Seria mesmo a vida?
Despedida
Escultura

Importa...

Para que tentarmos qualquer explicação?

Sei que te tomarei nos braços como uma criança
e atenderei à súplica de teus olhos...

Sei que já agora, depois que chegaste ao coração,
seria impossível voltar...

E para que voltar? Que importa se viemos de longe
e se deixamos tanta coisa para trás?
Importa é que posso levar-te em meus braços,
dobrar a curva adiante, escalar a montanha,
para encontrarmos a paisagem nova
que será outro mundo...

Importa é que nos sentimos como se tudo começasse
agora,
depois que és minha e eu sou teu,
e como se nada tivesse existido antes,
nada...
nem tu... nem eu...





 

Chovia... chovia...

Naquela tarde, como chovia!

Me lembro de que a chuva caía
lá fora
sem parar,
e seu surdo rumor até parecia
um sussurro de quem chora
ou uma cantiga de embalar...

Me lembro que tu chegaste
inquieta, ansiosa,
mas logo te aconchegaste
em meus braços, quietinha...
(...enrodilhada como uma gatinha...)

E eu quase não sabia o que fazer:
se de encontro ao meu peito te deixava adormecer...
se te mantinha acordada, para seres minha...

Me lembro que chovia... chovia sem parar...
E que a chuva caía a turvar as vidraças
anoitecendo o quarto em seus tons baços...

Me lembro de que te sentia
aconchegada em meus braços...

Me lembro que chovia...
E de que era bom porque chovia,
e porque estavas ali, e porque eu te queria...
Sim, me lembro que tudo era bom...
E que a chuva caía, caía,
monótona, sem parar, 
naquele mesmo tom...

Naquela tarde, amor, como chovia!

Agora, quando longe de ti, nem sou mais eu
em minha melancolia,
não posso mais ouvir a chuva cair
que não fique a lembrar tudo o que aconteceu
naquele dia...

Naquele dia...
enquanto chovia...




Marinha nº. 1

Desmancha os meus cabelos, como fazes
quando estamos os dois calmos e em paz,
em vazio colóquio - quando estamos
como dois barcos quietos... junto ao cais...

Quando deixamos para trás o mar,
mar de impulsos, de sonhos e desejos,
quando o teu corpo é um barco ao meu comando
sacudido de ventos e de harpejos...

Já vencemos, os dois, cantos e vagas,
na aventura das horas dionisíacas,
deslumbrados com os próprios temporais...

Desmancha agora, amor, os meus cabelos,
como fazes nas horas de bonança,
quando somos dois barcos, junto ao cais...




Marinha nº. 2

Em teus braços, sou como um barco
desarvorado,
por roteiros perdidos...

E o meu desejo é este vento
que levanta procelas
em teus sentidos...

......................................................

Ah! Morrer assim
como um marinheiro,
e mergulhar, e me afogar...
... e encontrar meu destino e meu fim
em teu corpo de mar...





 

Explicação

Só isto: trouxeste sol e calor
quando fazia frio...

Agora, de novo
alguém para se querer, para se chamar
de querida.

Só isto: trouxeste uma flor
e a fizeste crescer e desabrochar
neste ramo vazio
que era a minha vida.





 

As duas faces

Quando te aperto contra mim,
quando te beijo,
percebo que este amor é assim
como uma mistura
de ternura
e desejo,
que não tem fim...

Às vezes, tenho vontade de tomar-te entre as mãos
com a humildade e a pureza de um crente
a desfiar um terço,
tenho vontade de te embalar docemente
com esse cuidado de alguém que embalança
num berço ,
uma criança...

E, logo após, ímpetos de te amar,
de te querer e beijar
com volúpias de fogo
e carícias de chama,
como desesperadamente a gente quer
e beija
uma mulher
que se ama,
e se deseja...

Mistura
de ternura e desejo,
de mansa ternura
e desejo violento,
mistura
de morno carinho
e voluptuoso calor
- à vezes te quero como uma criança...
- outras vezes, como um louco, um doente
de amor!





Era música...

(Para leres, ouvindo a “Transfiguração do amor, de Tristão e Isolda”, de Wagner)
 
 

E então soprou um vento de ternura intensa.
E as nuvens se dispersaram, e eu vi que meu coração emergia
como um alto cume de montanha, dourado de sol,
musicado de pássaros e águas.

Olhava teus olhos, tuas mãos, teus cabelos, teu corpo...
Teu corpo era como um caminho sinuoso por onde saí 
      [desesperado
a procurar-te.

E, de repente, tomei-te nos braços, afaguei-te a cintura,
            [recolhi-te ao meu peito.
Teu coração inquieto pulsava mais que o córrego das 
        [montanhas,
batia asas de pássaro encandeado.

E de repente saímos livres e felizes, como simples
     [animais de Deus
com a direção dos ventos.

Faminto, colhi-te como um fruto! Sedento, bebi-te
        [como a água!
Marquei meus dentes em tua carne
e escorreste pela minha boca, pelo meu pescoço, pelo meu
        [peito.

Meus braços foram tuas formas. Minhas mãos te 
  [conheceram.
Desmanchei-te os cabelos, e me perdi. Nossas bocas se
     [uniram, e se esqueceram.

Tatearam meus lábios escalando cumes,
devassando vales.

E fiquei em ti, vivo e silencioso, como o sangue nas veias,
como a seiva na raiz.
E desci sobre ti e me entranhei, como a chuva descendo
      [e molhando.
E quando falamos: era música.





 

Seria mesmo a vida?

Agora que nos encontramos,
de repente compreendemos
que estávamos sózinhos...

Que importa o que vivemos?
Que importa o que passamos?
Seria mesmo Vida, a vida que levamos
por diferentes caminhos?

Agora que nos encontramos,
que te quero e me queres
como uma força jamais
pressentida,

parece incrível que eu já tenha falado de amor
a outras mulheres,
e que antes de mim pudesse ter havido algum amor
em tua vida!





 

Despedida

Toda vez que nos despedimos, tontos de amor,
enquanto me afagas, enquanto te afago,
teus olhos escuros, vidrados,
tem um brilho interior
de lua no fundo de um lago...

Toda vez que nos despedimos
à espera de uma inquietante outra vez,
enquanto recostas tua cabeça em meu peito,
te olho nos olhos, pensando que nunca nos vimos,
e me olhas também, mas parece que não me vês...

Toda vez que nos despedimos
- toda vez -
há um mundo de ternura em teus olhos, um mundo
estranho e profundo,
como os reflexos da luz no vinho que ficou
no fundo
de duas taças, após a embriaguez...





 
 

Escultura

Estranho que Deus te esculpisse
como uma obra de arte, perfeita
tu que serias a eleita - 
e só depois te entregasse a mim,
às minhas mãos de escultor...

Talvez faltasse ao teu corpo de estátua,
perfeito,
sopro mágico da vida, o efeito
mágico do amor...

Talvez, por isto, quando tenho
contra o meu, teu corpo
belo,
quando te modelo
- me sinto o Criador!
 
 
 
 


Remetente: Ângela aamn1@merconet.com.br

Página inicial de JG






Página principal do JP




Programação visual, 22.01.1999: SF