Uma enguia visitou-me em sonhos
Escorregadia
Esganando-me a goela.
Ou era o sempre cipó
Do soneto de Jorge de Lima
O mesmo que esmagava florestas.
E eram multidões de estrelas de sangue
Rubro tinto
Com certeza o de Augusto dos Anjos
(Oh! o cansaço dos bisavós)
E as árvores implorando pausas sestas
De Millet e de Van Gogh.
E todos os brios do campo
Para ofertar às criaturas mortas de sede.
Urubus voejavam
E a sorte era
A carne túrgida
Servia ainda de amparo
Ao espírito-mola
E nunca venceria a envilecente fadiga.
— Até o fim — rugiam as doces feras fraternas
Até o fim! Era o repique de um sino
E era o tigre ele próprio
Com seus coruscantes olhos de William Blake.
E para além do sonho
O real puro absoluto. |