Judith Grossman

Song of Herself
 
 
Esta 
Moça sentada de costas vista por detrás 
Por Dalí que estimava olhar por detrás 
Pode ser muitas coisas. 
O enorme cansaço sobrevém 
Após a ingente luta. 
Como se chamará? 
Charlienne... Salomé... Marcelle 
Elle... Ella? 
Uma menina vai no início 
Quase se curva sob as enormes tranças. 
Ela é a mãe 
Seus sonhos de ser 
Na alcova de ler. 
Ela é o pai 
Sendo 
Em seu escritório 
Em sua escrivaninha vermelha 
Encharcada de tinta azul. 
Seus passos ressoam pela rua. 
E a pajem: 
"Endireite as costas". 
"Não franza a testa". 
"Se continuar com este humor 
Não vai casar". 
O espanto o choque 
(A chuva cai 
Ensopando os cabelos) 
A trotar 
Sob o sol 
Sob a chuva. 
Ela é a que vai ser pilhada 
No imperecível jardim. 
Tudo são idéias 
Isto ela pensa 
E gosta. 
Mas seu coração 
É uma bomba desconhece. 
Filhos houve 
Apenas para não dizer 
Não os tivera. 
Mesmo assim não os tivera. 
Somente seu corpo frutificara 
Como uma vaga planta. 
As folhas das árvores 
E as folhas dos livros 
Eram as mesmas. 
Os mesmos sons 
Por efeito do vento 
Ou dos lábios. 
E até plantara 
Ao lado de um destemido varão 
Todo um bosque de eucaliptos 
E de espirradeiras. 
Mas agora ela está sentada 
Com uma misteriosa expressão nos lábios  
(Mona Lisa ao revés) 
Não se podem ver. 
Talvez haja sido 
O extenso caminho 
Tanto a cansou. 
Ou quem sabe o esforço sobre-humano  
Do último prélio. 
O de dizer numa carta  
Amo você. 
E a carta ainda nem terá chegado 
E ela já está tão cansada.
 

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 Página atualizada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  06  de  Agosto  de  1998