Judith Grossman

Morrer de Amor
 
 
esta voz que vive e se esboroa 
contra nítidos vitrais de cor grená, 
esta voz que vive e já retine 
como um selo e sinal de paraíso, 
esta voz puro céu não se confunde 
com escrita, traça ou cupim, 
descolore em líquidos azuis 
toneladas ou resmas de papel, 
mares, lares e túneis de só ir, 
esta voz que jamais se abateu 
por grafias por si próprias se constroem, 
esta voz se eleva e atinge as grimpas 
de prazer gritante ou sussurrado, 
esta voz sem pudor que predomina 
por telhados, ogivas e umbrais, 
esta voz que destrói qualquer cilada, 
impedimentos, álibis, ardis, 
esta voz que se dá a conhecer, 
aqui, agora ou mesmo acolá, 
esta voz quer falar o não-ditado, 
esta voz, esta planta, esta criança,
...que fazer com o que acaba de nascer?
 

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 Página atualizada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  06  de  Agosto  de  1998