O teu luto em mim
Dura perdura.
E antes sem saber de tua morte
Por sete dias ainda convivera com o vivo.
Conversávamos à distância
Por passarelas jamais subiste
Quando já estavas de volta
À cidade onde nascemos
No salão nobre do solar
Do Barão da Lagoa Dourada
No Liceu onde estudamos
Ginasianos em nossos uniformes
Pela mítica escada
Lá —
Que imensa pode ser esta palavra!
Naquela sala de espera
Abri a Veja de 12 de maio
E li não mais estavas:
"Conferencista brilhante".
Eras muito mais.
Desde menino
Aquele que comovia os minerais.
Mas o que se poderia dizer de ti
Sem risco de errar
Se nem ser ao vivo te cabia?
Por noites e noites
Esgrimi a grande falta.
Não é úmida a morte
Ela resseca ao meio-dia nos varais.
Agora apenas caminho
Não indago nada.
E minha vida se reata
Sob o teu signo permanente
Para contar a tua história.
O resto é silêncio. |