Judas Isgorogota


Atitudes

A poesia em mim era uma asa andeja que voava noite e dia e eu andejava, desde menino, na asa da poesia. — "Triste é o destino dos poetas!" o meu pai dizia. "Onde há poesia não há pão!" E minha mãe que, além de sertaneja, possuia um coração, como todas as mães: — "Pois que faça poesia! A poesia é o melhor dos pães". Quando chegou a hora de trabalhar, ser gente, fazer da vida uma linha reta, ela que até ali fora uma linha curva espinhosa e difícil... mar em fora saí, para lutar valentemente. Acontece que eu era apenas um poeta... Mas, ao fim, encalhei, como outros muitos barcos desarvorados, no acoradouro de um jornal; vida de sonhos e ordenados parcos, que, entretanto, me dava o que eu queria: um pouco de ideal, de liberdade e poesia. E um certo dia: — "Jornal é a sensação do cotidiano! É a vida terra-a-terra! Nada de poesia!" Só agora é que vejo, céus, quanto tempo perdido... E agora, olhando para trás, eu vejo, comovido, que, em meio a tanta desilusão, ainda assim me ficou a quietude que me anima e conforta. Enfim, nem tudo foi em vão: hoje sei que no mundo, a poesia está morta... Aquilo que era a essência da alma humana não mais existe... Em luta, diária, insana, tudo se digladia... O homem, para vencer, precisa odiar a própria poesia!... Mas, agora que estou aposentado, com toda a minha experiência dos homens, e do mundo atormentado; dos mistérios da vida e da divina essência; hoje, que longe vai a juventude; hoje, que vivo como um pássaro que pressente chegar, por entre rosas, a paz idílica das últimas auroras e dos últimos crepúsculos; eu, hoje, resolvi tomar uma atitude definitiva, corajosa, entre as mais corajosas: — Vou fazer poesia!


* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *