Judas Isgorogota


A Notícia

"Mano: Não calcula você como está transformado Tudo aqui. As vezes, tenho até de mim mesma indagado Se tudo não será mais bonito que aí... Eu bem sei que me engano. De certo, não será; não será, pois, se fosse Já teria você voltado ao seu rincão. Mesmo assim, acredito Que se o mundo daí é mais bonito Não poderá, no entanto, ser mais doce Ao seu bondoso coração De irmão... Olhe aqui: a Bibi de quando em vez me fala De você, E eu não sei porque após, tristíssima se cala. Não sei, não sei porque... Ah! como está bonito o jardim cá de casa! A parreira cresceu E apesar de viver sob este céu de brasa, A roseira já está mais alta do que eu! A laranjeira está coberta de asas louras, Asas que vivem lhe fazendo festa... Mais feliz do que eu... Mais feliz, digo mal; nenhuma laranjeira, Nenhuma árvore, enfim, da mais verde floresta, Que exulte em florações belas e duradouras Ou que tenha por trono a mais linda clareira, Poderá ser feliz como quem já sofreu! E os cravos, os jasmins... Nestes últimos dias, Não podendo sair a passeio, contente Fico em casa a ouvir as cantigas suaves Dos pássaros beijando o jasmineiro em flor. Só agora é que sei que é o amor tão somente Quem tece aquelas doces melodias E alinda as penas trêfegas das aves... Só agora é que sei que tudo aquilo é amor... Meu irmão, ao depois que você foi embora Como tudo mudou... A mamãe está boa, o papai com saúde, E o seu trabalho agora Já não é tão pesado nem tão rude... A casa inteira, enfim, se transformou O silêncio é completo. Aquela meninada Vivaz, com a qual você, quando escrevia, Sempre implicava solenemente, Hoje em dia, Muito embora não lhe fizesse nada, Não me procura como antigamente... Adeus. Escreva sempre. O papai o abençoa, Manda um beijo a mamãe. Como ela é boa... Como tem resisitido à vida que lhe dou... É ela quem está esta carta escrevendo, Esta carta que irá, através da distância, Dar-lhe a nossa saudade... Ah! ia-me esquecendo De uma coisa, afinal, de pequena importância: — Mano, a paralisia me atacou..."


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