Judas Isgorogota


Língua Portuguesa

Quando vieste de além, entre a incerteza E o destemor dos teus, vestida vinhas Da mais bela roupagem portuguesa! Ah! quem te vira o talhe puro, as linhas Esculturais e a excelsa realeza De rainha de todas as rainhas! Vinhas do Tejo múrmuro... Trazias Na voz magoada o som das melodias, No olhar, a queixa dos que lá se vão... E a tristeza de todas as cigarras, E a saudade de todas as guitarras A soluçar, dentro do coração! Vinhas radiante! Sob os céus pasmados, A Cruz de Cristo nas infladas velas Te indicava o caminha do Ideal! E mar em fora, recordando fados, Eras a alma das próprias caravelas Universalizando Portugal! E que entontecimento e que vertigem Quando chegaste, enfim, à terra virgem, E nela ergueste os braços teus, em cruz... E que emoção, quando o imortal Cruzeiro Pôs a teus pés, diante do mundo inteiro, Sua coroa esplêndida de luz! Depois, rendendo humilde vassalagem, Todos te deram as pepitas de ouro Que enfeitaram teu seio juvenil. De então, onde fulgisse tua imagem, Fulgia às tuas mãos o áureo tesouro, Imensurável, deste meu Brasil! E, certa noite, ao pé da Guanabara, Surges envolta só na tule rara De amor e sonhos, que te deu Jaci... E, armas à mão, morena entre as morenas, Tendo à cabeça teu cocar de penas, Te lançaste à conquista de Peri! Ah! quem te visse, após, em pleno dia, Desnuda, ao sol, não te conheceria... Qual irmã gêmea de Paraguassu, Desafiavas uma raça inteira Com teus coleios de onça traiçoeira E com o feitiço do teu colo nu... Mas, quem te olhasse, a sós, na noite quente, Ah! como te acharia diferente Ao ver-te, olhos molhados, a chorar, Tua guitarra amiga dedilhando, O teu fado liró, triste, cantando E os dois olhos perdidos lá no mar... Se me alegra o te ver brasileirinha, Oh! lusitana e doce língua minha, Não me envaidece, entanto, essa ilusão... Que hás de ser portuguesa, na verdade, Enquanto houver no mundo uma saudade, Uma guitarra, um fado e um coração!


* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *