João Moura Jr.


Nadando

Por incrível que pareça, talvez o melhor estilo para um poeta moderno seja o estilo clássico, ou nado de peito. Ele exige certa contenção. Você desliza n'água mansa- mente, como se hesitasse. Ao atingir a borda, é impossível virar cam- balhota, daí talvez ele ser chamado clássico, ou quem sabe é porque é o que serve melhor para se observar o que se passa ao redor, isto é, fotografá-lo, ou — evitando o anacronismo, e já que falamos de água — espelhá-lo, visto que o espelho é por excelência a metáfora do clássico. Nadar é como uma cobra: um constante enrodilhar-se em pensamento por vezes nada sublimes (que belo traseiro ali adiante, etc.); daí, em vez de estilo clássico, talvez fosse mais correto falar-se em mescla de estilos. Nadar: um poema longo em redondilha maior com andamento de prosa em que é difícil manter o mesmo ritmo sempre (Poe não dizia que um poema deve necessariamente ser breve?). Começa-se a arfar, os músculos pesam, respira-se irregular- mente, o nado, apesar de clássico, agora assemelha-se a um poema moderno (ou a um desaprendizado), um poema que tivesse uma piscina por tema, e um nadador que insistisse, já que escrever poesia (principalmente hoje em dia) é uma espécie de nada. Nada. Nada. Nada. Nada.


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