José Maria Nascimento
Tempos de Zona
A gilete se aprofunda sobre um amontoado de sífilis
as coxas um mapa de tantas cicatrizes.
Em cada mesa uma constante mudança
nunca ou quase nunca renovada
que é infeliz a nostálgica canção
brotando do disco como brota um fruto.
A toalha que envolve o corpo
é a miragem de tantas taras
é a fumaça perdida no trago
é a faca jogada no bueiro
é o anel cravado nos dentes
é o ouro entranhado no ventre
é o líquido da virgindade vendida.
Por dentro de uma garrafa
toda uma vida aqui se torna calma.
No espaço do gole
para o soluço inauguramos
os encontros passados com os amigos mais tristes
bailando nesta rua 28
vinte e oito vezes apaixonados.
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