João Naval

E O Romantismo ?
 
 
Esqueceram o romantismo 
e se envolveram em casuísmo,
tínhamos a religiosidade 
que nos tirava da maldade,
fazíamos a idolatria 
mas sem essa tal anarquia.
Deram cenas à poesia 
mas roubaram-lhe a polissemia
e induziram-nos à ideologia.
No romantismo,
a noite era mais bonita, silenciosa, 
penumbrosa e infinita.
Inspirava muito o romancista, 
dando-lhe pura alma de artista.
Onde estão nossas serestas? 
Perderam para os trios em festas,
enquanto a tecnologia come nossas florestas.
No romantismo,
a mulher recebia mais amores. 
Onde andam hoje as suas flores?
O homem amava a sua terra, 
mas evoluiu e aderiu à guerra.
Tínhamos muito o que ler e o que contar, 
mas agora o tubarão vem nos atacar,
são as bombas que explodem no mar 
expulsando-o do seu lar.
No romantismo,
não havia falsa reforma agrária 
e nem trataram plantadora como presidiária.
Hoje o plantador só caminha, 
e do alimento só recebe a espinha.
Em uma atitude profana, 
consolidaram a violência urbana.
Os namorados já não têm a lua 
e sofrem de medo na rua.
Vivemos fechados nos prédios, 
saboreando o horror e morrendo de tédio.
Será que para isso tem remédio?
Tem! E é você caro homem, 
levante o olhar do abdome!
Abra o seu coração, 
estenda ao outro a mão 
e olhem na mesma direção.
Aprendam como se faz, 
olhando em direção à paz,
aprendam como dividir tristeza e 
chegarão à melhor certeza,
dividam também alegria 
e aí aparecerá a moradia,
conversem, busquem o entendimento 
e então aparecerá o alimento.
Livrem-se da individualidade 
e aí aparecerá a moralidade.
Se quiserem chorar, 
não devem se acanhar, 
as lágrimas podem ajudar,
pode ser que de um pranto profundo, 
apareça uma melhor visão do mundo.
Depois desse papo legal, 
mandem cartão de natal 
e a roupa continuará no varal.
O romantismo é assim, 
faço algo por você 
e você faz algo por mim,
é o máximo de solidariedade 
distribuída dentro da realidade.
O romantismo não morreu, 
apenas adormeceu, 
e não esperemos a chance de acordá-lo,
mas sim façamos a chance de reativá-lo. 
Sejamos realistas, 
mas sem perder o romantismo de vista. 
Um dia esta corda se solta, 
então o romantismo estará de volta, de volta, de volta, de volta...
 
 

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  14  de  Agosto  de  1998