Julio
Neves Pereira
junepe@uol.com.br
Julio Neves Pereira (São Paulo-1962)
Poeta iniciante. Professor de Leitura e Produção de
textos na Universidade Camilo Castelo Branco. Mestre em Língua Portuguesa
pela Puc-SP, cujo tema da dissertação foi: Como poetam os
poetas - uma reflexão interdisciplinar sobre o processo de criação
do poema.
1. Á meia
luz do inferno
Tua carne vasculhavam, enquanto,
em um colchão de água fria, dormias.
Eram mãos labaredas que escorriam
por entre tuas coxas-teflon,
em busca de tua gênese,
momento em que delineava, secreta, em ti,
a rubra, como flor da prima luz da manhã,
vontade de abrir-se primavera, verão...
Mas antes da toalha felpuda,
triunfara o sono-tridente: as brasas
esturricaram as pétalas do teu jardim,
à meia luz do inferno.
2. Flor flamenga
(a Débora Nefuci)
As cordas violam o silêncio
dos olhos, das bocas, dos corpos.
Mãos atrevidas e compassadas,
Movimentos cadenciados
alumiam os rostos espectadores.
Há cheiro de álcool.
Há cheiro de flor.
Morte.
Vida.
Passos e palmas no tablado.
Brados tamponados. Força.
Rios de risos e gritos. Dança.
Entre jogos de luzes e carnes,
os tecidos de uma flor,
entre o corpo tecido de técnica
e intuição,
a gentileza, a traição,
o amor,
a guerra, o suor, os ventos,
entre os sorrisos,
entre os ritmos cíclicos,
os orgasmos ...
Eis o rebento:
à castanhola, sob os
sons da viola, a mulher.
3. (sem título)
Agenda em
tua caixa cefálica
o fálico
olor momentâneo
e, como condor
sutil, delicia
as angústias
de um figo amanhecido
(figo que
é fogo
fogo que
é jogo).
Mas não
se esqueças das luzes da cidade
- as falsas
luzes lúcidas,
a meia verdade
-
que te cegam,
e eternizam-te
em lume de vaga-lume.
4.
HÁBITO
(madrugada)
No opaco escuro
claramente
um bêbado
sem cara
cambaleia
tropeços
de vida.
(Estilo etílico)
corda bamba
santo malabarista bambo
insa-
no meio fio tonto
andar torto em santo
oco salto (!!!) Estilístico.
Levantou-se frio e
bebeu a água ardente.
Os anjos tocaram,
habilmente,
as valsas dos mesmos dias.
5.
DILEMA
Cá estamos, entre o Padre e o General.
O primeiro vendo os olhos do Cristo lagrimejando,
O segundo, o corpo sangrando do soldado
armado.
Cá estamos, entre os olhos e o corpo.
Aqueles olhando para as mazelas do tempo,
este sentido a navalha lenta e gradualmente.
Cá estamos, entre as mazelas e a navalha.
Ela, um cego nas mãos cegas,
elas, a marca da vida sem sentido.
Cá estamos entre as mãos e a marca.
Um nos impõe a cruz,
Outro, a espada.
Página inicial
do JP
|