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Atualizado em: 08.01.2000

 
Julio Neves Pereira
junepe@uol.com.br


Julio Neves Pereira (São Paulo-1962)
Poeta iniciante. Professor de Leitura e Produção de textos na Universidade Camilo Castelo Branco. Mestre em Língua Portuguesa pela Puc-SP, cujo tema da dissertação foi: Como poetam os poetas - uma reflexão interdisciplinar sobre o processo de criação do poema.

1.         Á meia luz do inferno

            Tua carne vasculhavam, enquanto,
            em um colchão de água fria, dormias.
            Eram mãos labaredas que escorriam
            por entre tuas coxas-teflon,
            em busca de tua gênese,
            momento em que delineava, secreta, em ti,
            a rubra, como flor da prima luz da manhã,
            vontade de abrir-se primavera, verão...
            Mas antes da toalha felpuda,
            triunfara o sono-tridente: as brasas
            esturricaram as pétalas do teu jardim,
            à meia luz do inferno.
 




2.        Flor flamenga
                                (a Débora Nefuci)

       As cordas violam o silêncio
       dos olhos, das bocas, dos corpos.
       Mãos atrevidas e compassadas,
       Movimentos cadenciados
       alumiam os rostos espectadores.
       Há cheiro de álcool.
       Há cheiro de flor.
       Morte.
       Vida.
       Passos e palmas no tablado.
       Brados tamponados. Força.
       Rios de risos e gritos. Dança.
       Entre jogos de luzes e carnes,
       os tecidos de uma flor,
       entre o corpo tecido de técnica e intuição,
       a gentileza, a traição, o amor,
       a guerra, o suor, os ventos, entre os sorrisos,
       entre os ritmos cíclicos, os orgasmos ...
       Eis o rebento:
       à castanhola, sob os sons da viola, a mulher.



3.  (sem título)

          Agenda em tua caixa cefálica
          o fálico olor momentâneo
          e, como condor sutil, delicia
          as angústias de um figo amanhecido
          (figo que é fogo
          fogo que é jogo).
          Mas não se esqueças das luzes da cidade
          - as falsas luzes lúcidas,
          a meia verdade -
          que te cegam,
          e eternizam-te em lume de vaga-lume.



4.
            HÁBITO
 

          (madrugada)
 

          No opaco escuro
          claramente um bêbado
          sem cara cambaleia
          tropeços de vida.

         (Estilo etílico)

        corda bamba
        santo malabarista bambo insa-
        no meio fio tonto
        andar torto em santo
        oco salto (!!!) Estilístico.

       Levantou-se frio e
       bebeu a água ardente.
       Os anjos tocaram,
       habilmente,
       as valsas dos mesmos dias.



5.
                              DILEMA
 

     Cá estamos, entre o Padre e o General.
     O primeiro vendo os olhos do Cristo lagrimejando,
     O segundo, o corpo sangrando do soldado armado.

     Cá estamos, entre os olhos e o corpo.
     Aqueles olhando para as mazelas do tempo,
     este sentido a navalha lenta e gradualmente.

    Cá estamos, entre as mazelas e a navalha.
    Ela, um cego nas mãos cegas,
    elas, a marca da vida sem sentido.

   Cá estamos entre as mãos e a marca.
   Um nos impõe a cruz,
   Outro, a espada.



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