Chovia
Meus olhos também choviam
A água universal vinda dos mares
Se misturava à minha água interior
Como no encontro desconfiado
Do rio Negro com o Solimões
As águas se tocavam intimidadas
Parecendo correr sem se tocar
E havia a água do suor cheio de sal
E já eram várias águas tentando se unir
Varrendo o sentimento por sobre o peito
Tentando amenizar o martírio do martelar
E havia árvores tristes observando
Curvando-se timidamente ao leve vento
E era preciso enterrar os mortos
E seguir o comboio em marcha lenta
E depois se despedir dos parentes e amigos
Que só aparecem em dia de velório
E continuar marchando os dias e as noites
Seguindo o instinto mágico da sobrevivência... |