Luís Alberto Batista Peres

Lágrima
       
 
Chovia 
Meus olhos também choviam 
A água universal vinda dos mares 
Se misturava à minha água interior 

Como no encontro desconfiado 
Do rio Negro com o Solimões 
As águas se tocavam intimidadas 
Parecendo correr sem se tocar 

E havia a água do suor cheio de sal 
E já eram várias águas tentando se unir 
Varrendo o sentimento por sobre o peito 
Tentando amenizar o martírio do martelar  

E havia árvores tristes observando 
Curvando-se timidamente ao leve vento 
E era preciso enterrar os mortos 
E seguir o comboio em marcha lenta 

E depois se despedir dos parentes e amigos 
Que só aparecem em dia de velório 
E continuar marchando os dias e as noites 
Seguindo o instinto mágico da sobrevivência...

 

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  21  de  Agosto  de  1998