Quando vi o mar foi espanto mútuo
Eu tinha 25 anos na primeira vez
Ele me pareceu grande demais
Mas diante da minha imaginação
Ele se sentiu deveras pequeno
Eu já o conhecia apesar de longe
Era no meu peito que suas ondas
Enfurecidas e espumosas batiam
Eu o sentía na fúria do vento
E o seu imenso transbordamento
Era convertido em lágrimas cadentes
Que corriam pelos meus olhos castanhos
Eu já estive nas suas solidões
Sentado nas pedras cheias de limbo
Nos lugares inacessíveis e medonhos
Onde apenas os pássaros e os sonhos
Conseguem alados atingir tristonhos...
Estive sentado em ilhas distantes
Compondo aqueles versos retirantes
E fui num barco cortando a espuma
Seguindo adiante ancorado na quilha
Rasgando teu peito para conhecer-te
E ouví seus brados e seus sussurros
E o acolhi em meus ombros desamparado
Quando a incerteza cega do destino
Te fez fraco e pobre e andarilho
E fostes buscar abrigo na esperança de um menino... |