Luís Amaro


A Um Poeta

(memorando Manuel Ribeiro de Pavia) Não reveleis o sono. A luz do dia Fere de mais a alma; e, oculta, A face esquece a sua chaga rubra. A dor, amordaçando, purifica: Que ela te dê, no sangue, o novo alento Para outros voos de que sairás vencido (Mas entretanto vives…) E procura Haurir na solidão a graça, o prémio Daquele instante puro, essencial A que não chega o vão rumor do tempo Desfigurado e vil. E, já liberto, Conhecerás tua verdade inteira Ouvindo alguém, sem corpo nem memória, Segredar-te as palavras invisíveis De que é tecida a Noite — tua esperança! (in Antologia de Poetas Alentejanos)


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