Luís Amorim de Sousa 

O Velho no Parque
                           
                                
é por inconformismo
que venho aqui sentar-me
neste parque mais velho do que eu

há um raio de sol que me conhece
e vem lamber-me as mãos quando
me vê

de resto não suporto este verde molhado
este romper de brancos e amarelos

sei de memória as vozes quotidianas
e atento aguardo a noite
que as sossega

a minha noite
pássaro sem asas
onde abrigar a célere cabeça

os meus navios afundei-os todos
ante um luar puríssimo humilhado

ó meu país
ó mapa desdobrado sobre a areia
não sei porque te invoco ó sepultura
aberta e saqueada

existes só no espaço em que te habito
aqui
numa praia distante entre as rochas e conchas
que me ferem os pés e me fazem sofrer

invoco-te e és real medonho e
impossível

ó flâmula hasteada
ó marinheiro triste nos porões

 
                                                                                       In: Signo da Balança
 
 Remetente : Maria Alice Vila Fabião 

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 Página editada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  05  de Fevereiro de 1998