figos pingo-de-mel rainhas cláudias
e uma cabaça de vinho tinto da venda
pão de centeio também e uma mão cheia
de azeitonas miúdas e alhos bravos
é tudo quanto posso pôr na mesa
se por aqui passares ó caminheiro
na lareira há caruma e pinhas secas
que as minhas noites são frias e frugais
oiço lá fora o vento em seu vai-vém
mas nenhum galho estala nos caminhos
que direcção tomaste ó caminheiro
ó tu dos membros pesados?
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baladas o meu mester
pelo meu escárnio
um cangirão de vinho
pelo melhor de mim
irrequietas coxas entre lençóis lavados
palmilhei estradas sem conta
e nem caudal de rio
nem escarpa de barranco
ensarilharam meus passos
de estação a estação
decoro novas toadas
e de novo muralhas
cúpulas altas terraços
e a mancha verde-escura dos loureiros
por cada passo uma sílaba
sol ó meu mestre
que recompensa a minha?
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do alto da muralha da cidade
olho o estendal
deste nosso mercado
cabazes transbordantes de cerejas
ameixas uvas romãs
medidas rasas de pinhões pevides
serapilheiras abertas sobre a areia
aves em pânico
atadas
por um cordel
mulheres acocoradas
espevitam fogareiros
moedas empilhadas num tijolo
garantem a demasia
para a compra dum leitão
peças de linho
a sombra dos eucaliptos
frituras polvilhadas de canela
ramos de hortênsias e molhos de agriões
salpicados com água dum alguidar de enguias
e bilhas
barros
arquétipas figuras
as cores da hortênsia
da ameixa
da romã
sentado na muralha da cidade
talho uma flauta de cana |