Luís Amorim de Sousa 

The Bunting Variations
                  
 
figos pingo-de-mel rainhas cláudias
e uma cabaça de vinho tinto da venda
pão de centeio também e uma mão cheia 
de azeitonas miúdas e alhos bravos
é tudo quanto posso pôr na mesa
se por aqui passares ó caminheiro

na lareira há caruma e pinhas secas
que as minhas noites são frias e frugais

oiço lá fora o vento em seu vai-vém
mas nenhum galho estala nos caminhos

que direcção tomaste ó caminheiro
ó tu dos membros pesados?

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baladas o meu mester

pelo meu escárnio
um cangirão de vinho
pelo melhor de mim
irrequietas coxas entre lençóis lavados

palmilhei estradas sem conta
e nem caudal de rio
nem escarpa de barranco
ensarilharam meus passos

de estação a estação
decoro novas toadas

e de novo muralhas
cúpulas altas terraços
e a mancha verde-escura dos loureiros

por cada passo uma sílaba

sol ó meu mestre
que recompensa a minha?

<---xxx--->
 

do alto da muralha da cidade
olho o estendal
deste nosso mercado

cabazes transbordantes de cerejas
ameixas uvas romãs
medidas rasas de pinhões pevides
serapilheiras abertas sobre a areia
aves em pânico
                      atadas
                                    por um cordel

mulheres acocoradas
espevitam fogareiros

moedas empilhadas num tijolo
garantem a demasia
para a compra dum leitão

peças de linho
a sombra dos eucaliptos

frituras polvilhadas de canela
ramos de hortênsias e molhos de agriões
salpicados com água dum alguidar de enguias

e bilhas
                barros
arquétipas figuras
as cores da hortênsia
                                     da ameixa
                                                      da romã

sentado na muralha da cidade
talho uma flauta de cana

                                                     
 Remetente : Maria Alice Vila Fabião 

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 Página editada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  05  de Fevereiro de 1998