página a página
virando as folhas (todas) uma a uma
encontro pouco a pouco e duma vez
o corpo inteiro
o delta
deste correr para o mar de sensações
desordenadas
íntimas
agudas
este estar só
como quem de repente
se vê sem dar por isso e até que se aperceba
no espelho duma montra
familiar
fugaz
um pouco desfocado
mas pouco a pouco
e de fora para dentro
inteiro e duma vez
noutra realidade
que sendo inesperada
se afirma inexcedível
essa (eu
diria)
com que ando por aí de corpo inteiro
lendo
portanto
a tua poesia
<---xxx--->
irmãos
porque os tiveste
os assumi
lenhosos livres
imperturbáveis seres
de peito a descoberto
resvalando para a lenda
ardentes
vagarosos
vagos como a folhagem
densos
claros
como o ar do Outono
o penetrar nas águas
de remos
a compasso
meus
irmãos
deste lado
do mar
que nos separa
nos uniu no entanto
antes da quarta volta
a primeira
a contar
de lá para cá
onde as vozes se apartam
e são restituídas
ao seu metal
seu barro
seu vidro vário
seu brilho
sua noite
<---xxx--->
esta garganta
este desfiladeiro
esta fundura a pique
este leve aflorar
de veios de água
na face
dos penedos
este murmúrio
este
segredo
de quantos passos idos
inscritos na memória destas pedras
e os nomes que lhes deram
enumerando
sítios
procriando aventuras
evocando vertigens
pontos de não retorno de vidas em desfile
esta vertente
descrevem teu perfil
os grilos do teu canto
e o bater de machados
em troncos
seculares
<---xxx--->
dorme
deita-te neste espaço
e dorme
as gerações que passam a teu lado
debruçam-se no rio que tu és
e bebem dele
e mergulham seus membros na corrente
e jogam-se em seu leito
caudaloso
e quem de ti recebe
direcção e frescura
contigo se encaminha para o mar
que o teu cantar desperta
e o teu corpo reclama
avidamente |