Luiz Bacellar

Um Pincel de Barba
 
 
Estava ali
sobre o muro
do pátio ao sol.

Para esterilizar
e secar
depois de eu ter rapada 
a cara.

Blairreau,
objeto de luxo,
pêlos de texugo
(o guaxinim nordestino 
que pesca caranguejo 
enfiando o rabo nos buracos do mangue, 
e fica ganindo baixinho, esperando 
o ataque das pinças 
para puxá-lo, 
lavá-lo e
comê-lo.)

E veio aquela
violenta ventania
o transforma num cometa: 
peluda cauda esparramada, 
o cabo de lucite faiscante, 
— semente de dente-de-leão 
ao vento abrindo o pára-quedas natural —
vai cair do vizinho 
no quintal.

Então
vem-me a tentação 
de deixá-lo por ali 
sobre o monturo 
qual numa semente cristalina uma
                flor.

                                                                     

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 Página atualizada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  01  de  Junho  de  1998