Luiz Bacellar

Noturno do Bairro dos Tocos
 
 
Há tanta angústia antiga em cada prédio!
Em cada pedra nua e gasta. E agora
em necessário pranto que demora
o amargo verso vem como remédio

pelos sonhos frustrados em cada hora
da ingaia infância. Madurando o tédio
nos becos turvos, porque exige e pede-o
inquieta solidão que assiste e mora

em cada tronco e raiz, calçada e muro:
Chora-Vintém, O-Pau-Não-Cessa* . Impuro
se derrama um palor de lua morta

nas crinas tristes, no anguloso flanco:
memória e angústia fundem-se num branco
cavalo manco numa rua torta.

                              
                               
                           
(poema extraído do livro "Frauta de Barro", 1963)
                                                                     
Remetente: Aníbal Beça

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 Página editada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  01  de  Junho  de  1998