Luís Inácio Araújo


Agreste

Não mais recuo: o que escrevo é escassez e fendas, é contra esse modo reto e seguro de escrever que escrevo — em desaprumo. Bebo o gosto travado desse poema numa cobiça de ser dito: um laivo de sangue escorre de minha boca. O processo vital subsiste ainda na artéria, a manhã poluída prossegue sua lenta engrenagem, seu incêndio diário, sua assimetria — apesar do azinhavre no garfo do pêndulo, do cotidiano cigarro igual ao trabalho noturno da morte num corpo. Mas pra nomear o que respira secretamente por trás dessa vida de veias nervos assombros penhoras e sofre desfiladeiros poços terrenos baldios, a mais inexplicável vertigem — nenhuma palavra é possível: nenhum selo.


* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *