Lauro Leite


Ironia Lúcida

Agora é tempo de sorrir e ser de novo o garoto das compras e dos recados Agora é tempo de fingir que nada valem os eternos fundilhos remendados, Agora é tempo de esquecer as lágrimas — engoli-las de uma vez! — e voltar à surdez da ignorância, pois já me afogo em tanta ironia, pois não suporto ter-me em consciência e já não quero amar-me em lucidez. Vinde a mim as velas coloridas que aportam às prostitutas do Desterro. Abram os caminhos: quero falar com a Mãe de Deus e receber a unção da ansiedade e da poesia. Calem, por favor, as radiolas regueiras; quero ouvir o boi-bumbá e o criola, quero rodopiar o corpo no balé negreiro. Agora, tragam a rede que o poeta vai dormir com o sonhar afoito das gentes maranhenses e o cor o cansado do viver intenso.


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