Leonel Neves 

Mercado
       
                                                                                   
Se fores ao mercado e vires um rapaz
a vender montinhos de maracujás
e os montinhos forem mais ou menos dez
e achares que são bons, traz todos, traz
(a três um escudo, podes trazer tudo),
mas não os compres todos de uma vez.

Não custa nada fazer teatro
e é importante para o rapaz:
deves comprar primeiro quatro,
mais tarde três e por fim outros três,
pedindo a alguém que o faça por ti
(é favor que qualquer pessoa faz).

É importante par ao rapaz
que andou três léguas até aqui
com dez montinhos de maracujás
e não acha bem que uma só pessoa
os leve de repente num cabaz,
– isso e terra, isso e sol e chuva boa,
isso e cinco horas por estradas más
e uma hora para apanhar maracujás.

E depois fica no mercado, à toa?
Sem nada p’ra vender, que é que ele faz?
À roda, sentados, são todos iguais
lá aos seus vizinhos, amigos e pais
e gente assim como nós também há
onde moram ele e o maracujá;
a cidade, de facto, é maior mas parece
um pouco a vila próxima que ele já conhece;
e quanto ao mar… o Ataúro, em frente,
é como um monte longe, quando a chuva arrasa
tudo, tudo, e as ribeiras incham de repente.
E que mias? Muita loja, muita casa,
muita gente e mais jipes que cavalos.

É, pois, importante para o rapaz
que não lhe compres tudo de uma vez,
deixando-o no mercado, à toa…
Aliás,
a luta de galos só começa às 3.

          
                                    (In Memória de Timor Leste, Pedra Formosa, Edições,
             Lda, 1989  ISBN 972-8118-15-5)
          
                    
Remetente : Antonio Pedro Braga 

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  23 de dezembro de 1997