Breve piroga com flutuadores,
como um insecto de precárias asas.
Bicho da terra, que se atreve ao mar
só na orla da praia, só à vista das casas.
Bote sem vela nem motor, sem leme:
um único remo e duas muletas.
Mosquito do pântano, pousado nas ondas,
de asas nem sequer rotas, – incompletas.
Tronco escavado, não pela mão do tempo
nem por bichos que morem no buraco,
mas aberto à catana por um homem
que ficou ele próprio a encher o vácuo.
Transplantado para o chão móvel das águas,
setas de pau e linhas por raízes,
folhas regressadas em súbitas aves
e a incerta seiva de peixes felizes.
Árvore amputada que sobreviveu,
ressuscitada pela fome.
Barco a que proibiram o mar alto:
sempre à beira da ilha, beiro é mesmo o seu nome. |