Luís Veiga Leitão


Corredor

Cem metros à sombra — temperatura de tantos corpos e almas em rodagem. Neste muro cercado, a maior viagem sob um céu de pedra escura. Sombras em fila, espectros talvez, desplantam ecos da raiz do chão. Lembram comboios que vêm e vão sob túneis de pez. E vêm e vão com pés humanos ressoando movimentos tardos, levando fardos, trazendo fardos das horas sem dias e meses sem anos. E vêm e vão, sempre, sempre a rodar na linha dos railes espectrais, sem descarregadores na gare, sem guindastes no cais. E vêm e vão pela via larga das redes do sonho e da lembrança, levando a carga, trazendo a carga de toneladas de esperança.


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