Lina de Villar

Versos às Rosas Brancas
                  
 
1
Rosas de leite rosas de neve
Funéreas rosas imaculadas
Tendes a inércia dolente e leve
De Virgens loiras amortalhadas

2
Flocos de tule esfarrapado.
Gaze cetim, rendas frouxéis
Restos de um traje de noivado
Que alguém rasgou nos vergéis

3
Auréolas vivas rutilando!
Migalhas claras de algum astro
Flocos de espumas transbordando
De estranho vasos alabastrinos

4
Eu sinto em vós planger magoada
Do miserere a angústia infrene
A mesma angústia macerada
Dos versos tristes de Verlaine

5
A mesma dor que anda nos sinos
Cujos soluços nos comovem
Tremular dos violinos
No Claire de Lune de Beethoven

6
A mesma paz da água dormente,
De quietas pálpebras cerradas.
Chorando o pranto opalescente,
O pranto azul das alvoradas.

7
A mesma alma luzidia
De asas exumes de querubim
A Virgem Mãe Santa Maria
Devia ter as mãos assim ...

8
Oh! grossas lágrimas geladas
Que a noite do jardim verteu!
Ressuscitais coisas passadas
Que a gente pensa que esqueceu.

9
Tendes a palidez doentia
De mãos que vão morrer em prece
Com o fervor que nada esfria
E uma algidez que nada aquece

10
Tendo o alvor da musselina
E a languidez de quem se entrega
Rosas que um beijo contamina
Que um roçar de asa desagrega. 

11
Há como vós almas na vida
Deste candor ideal dos círios
Desta brancura indefinida
Rosas que mais parecem, lírios ...

11*
Almas de arminho e claridade
Rosas que um sopro faz manchas
É negra, é negra a tempestade
E sois tão fáceis de manchar ...

12
Se Deus vos deu a cor dos luares
Vós fez tão frágeis e tão puras
Foi para a sombra dos altares
Pra solidão das sepulturas ...

*número 11 repetido no original
 
                                                                          
Remetente: Walter Cid

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 Página editada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  02  de Abril de 1998