Martins D'Alvarez

A Canção do Criador de Caminhos
 
      Sertanejo cearense,
      adonde vais sem parar?
      Quem te chama, que te espera
      na aridez dos tabuleiros,
      no recesso das caatingas,
      por detrás dos horizontes
      — que vão além destes montes
      muito além daquela serra?
      E o sertanejo não ouve.
      E se escuta, vai passando,
      com a planta do pé rasgando
      novos caminhos na terra.
       

      — Jangadeiro cearense,
      adonde vais todo dia,
      por esses mares bravios,
      onde o perigo se esconde,
      onde o infortúnio se acoita,
      onde a desgraça te espreita?
      O que procuras é a Vida...
      Ou a morte estás a buscar?
       

      E o jangadeiro indomável,
      a vela branca soltando,
      sobre as ondas vai rasgando
      novos caminhos no mar.
       

      — Cearense da cidade,
      adonde vais mundo afora?
      Por que foges do teu berço,
      do teu lar do teu povo,
      para tentar a aventura,
      gravitar pelas alturas,
      no bojo dos aviões,
      errando de déu em déu?
       

      E o cearense impetuoso,
      por sobre as nuvens planando,
      vai seguindo, vai rasgando
      novos caminhos no céu.
       

      Só no dia em que, cearense,
      a saudade te chamar,
      — nos seringais da Amazônia,
      — nos cafezais de São Paulo,
      — nos estranhos continentes,
      é que então nós compreendemos...
      — e quem não compreenderá?
      Sampaio, pelos sertões, 
      Nascimento pelos mares,
      Pinto Martins pelos ares,
      à hora de regressar
      — há mais caminhos na terra!
      — Há mais caminhos no céu!
      — Há mais caminhos no mar!


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