Sertanejo cearense,
adonde vais sem parar?
Quem te chama, que te espera
na aridez dos tabuleiros,
no recesso das caatingas,
por detrás dos horizontes
— que vão além destes montes
muito além daquela serra?
E o sertanejo não ouve.
E se escuta, vai passando,
com a planta do pé rasgando
novos caminhos na terra.
— Jangadeiro cearense,
adonde vais todo dia,
por esses mares bravios,
onde o perigo se esconde,
onde o infortúnio se acoita,
onde a desgraça te espreita?
O que procuras é a Vida...
Ou a morte estás a buscar?
E o jangadeiro indomável,
a vela branca soltando,
sobre as ondas vai rasgando
novos caminhos no mar.
— Cearense da cidade,
adonde vais mundo afora?
Por que foges do teu berço,
do teu lar do teu povo,
para tentar a aventura,
gravitar pelas alturas,
no bojo dos aviões,
errando de déu em déu?
E o cearense impetuoso,
por sobre as nuvens planando,
vai seguindo, vai rasgando
novos caminhos no céu.
Só no dia em que, cearense,
a saudade te chamar,
— nos seringais da Amazônia,
— nos cafezais de São Paulo,
— nos estranhos continentes,
é que então nós compreendemos...
— e quem não compreenderá?
Sampaio, pelos sertões,
Nascimento pelos mares,
Pinto Martins pelos ares,
à hora de regressar
— há mais caminhos na terra!
— Há mais caminhos no céu!
— Há mais caminhos no mar!