Mário de Alencar


Depois de Ler a Ode I de Horácio

Nem tudo, sábio Horácio, o que aspiravas E a Mecenas pedias, é o que aspiro. A mim basta-me um plácido retiro, Entre árvores, ao pé da água corrente, Ouvindo a voz das musas que invocavas. Com isso apenas viverei contente. Longe da turba inquieta que aborreço, Nem teria ambições, nem cuidaria De haver glórias da terra. Na poesia É o grande prêmio dela o vago sonho, Com que eu, vivendo embora, a vida esqueço E num mundo melhor viver suponho. Tão alto não irei no imenso espaço Que toque os astros como tu, amigo. Mas sei que astros e céus tenho comigo Enquanto com estes sonhos bons me iludo; E como as aves cantam, versos faço. Isso — que vale o mais ? vale-me tudo.


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