Manuel Gonçalves
Romance do tangedor de campaniça
Semeador, semeou, floriu baldios;
Zagal de Bernardim, flautou-lhe os versos;
Ganhão, entesourou sonhos dispersos;
Cantador, cantou moças, messes, rios...
Nunca virou a cara aos desafios:
Viola campaniça, dedos tersos,
Glosou, com galhardia, os controversos
Motes de mil rivais, metido em brios.
Chegou, depois, um tempo de profetas
Apregoando Europas de Justiça,
Celeiros a explodir, mesas repletas...
E lá está ele, o tangedor sem nome,
Perdido o sol-maior da campaniça,
Tangendo, agora, em dó-maior de fome!
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