Marco Antônio de Souza

Prateleiras ao Chão

Fora ! Rejeição total às tradições seculares, às arcaicas convenções, aos preconceitos e barreiras ... Fora ! Abaixo o maniqueísmo de almanaque que sacraliza o bem e exorciza o mal como se ambos não fossem a um só tempo, faces distintas de moeda única, inseparáveis, porque sem valor se apartadas... Fora ! Abaixo com esta vida de concessões de pedir licença para ser feliz; abaixo com este medo de ousar aventuras de risco em alto mar; abaixo com o terror sob os lençóis em chamas, abaixo com o dizer sim se a vontade soberana impele a vomitar o não... Fora ! Abaixo com esta economia de sentimentos, esta poupança no amar; abaixo com este viver acovardado atrás das lombadas dos códigos e constrangido por leis humanas que aprisionam e amordaçam... Fora ! Abaixo com o falar baixo ou o não falar, abaixo com esta vida de eterna sede, abaixo com a míope vista de não enxergar o mar, abaixo com a manca perna que não permite sair do lugar... Fora ! Abaixo com a excessiva gentileza e com a inesgotável paz; abaixo com as mentirosas eternas certezas... Fora ! Abaixo com a valorização das doenças, a dependência, o servilismo, abaixo com este vil baixismo... Sopra além do peito, além do coração, além da alma, maravilhosa lufada de ar bendito que concebe e faz nascer a liberdade como única conquista a conquistar...


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