Marcus Accioly


Latinoamérica
Round 22
Fórceps

madre América minha (minha madre) às vezes no teu seio (quando sofro por coragem não ter de ser covarde) ânsias sinto de estar ou ser de novo no teu útero (sim) na intimidade capaz de me fechar (como em um ovo dentro de ti) por isso é natural que me coloque em posição fetal (sim) encolho meu peito até os joelhos puxados com os dois braços (sem falar vou boiando das chamas dos teus pêlos ao teu ventre redondo feito o mar) nado em tua placenta onde os vermelhos lençóis do sangue tentam me dobrar em suas dobras (madre) e sou o filho que religa o cordão ao próprio umbigo (ai quando o pensamento cega o sonho ou o sonho quer mentalizar o mundo) quando eu me reconheço tão estranho que fecho os olhos para ver mais fundo (madre minha) eu me curvo enquanto ponho toda a cabeça em tua vulva e afundo (à semelhança do avestruz) por dentro do fim e do começo do teu centro (em ti posso esconder-me de mim mesmo) sou o menino que era no teu colo (mas perdeu a saúde e está enfermo de tanto suplicar o teu consolo) eu quero ser (mesmo empurrado a ferro como um bolo-de-carne ou feito um rolo- de-sangue) igual a um feto que se esforce a entrar em ti sob invertido fórceps


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